Um novo olhar sobre o trabalho com nosso Folclore
Conhecer e dialogar sobre as diferenças culturais, valorizando a diversidade, desenvolvendo um olhar acolhedor e respeitoso fará toda a diferença na formação integral de nossos estudantes.
Na Educação Infantil, com o campo de experiência O eu, o outro e o nós, as crianças terão as primeiras vivências com outras histórias, outras realidades, construindo suas primeiras percepções do mundo que as cerca. Por isso, é tão importante que essas experimentações sejam significativas e possam ajudá-las a construir um olhar real e plural.
“É na interação com os pares e com adultos
que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir
e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida,
pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Conforme vivem
suas primeiras experiências sociais (na família, na instituição escolar,
na coletividade), constroem percepções e questionamentos sobre
si e sobre os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando-
se como seres individuais e sociais” (BNCC – p. 40)
Na Área de Ciências Humanas, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) nos convida a dar continuidade a essas experiências, por meio de ações pedagógicas que possibilitem o desenvolvimento da competência 4:
“Interpretar e expressar sentimentos, crenças e dúvidas com relação a si mesmo, aos outros e às diferentes culturas, com base nos instrumentos de investigação das Ciências Humanas, promovendo o acolhimento e a valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.” (BNCC p. 357)
Uma das oportunidades em que podemos promover essa discussão é na definição de estratégias a serem propostas para o trabalho com o nosso Folclore.
Mas antes de partirmos para as sugestões de atividades, precisamos rever alguns conceitos para que possamos atingir os objetivos já descritos.
Folclore é o conjunto de costumes, lendas, histórias, hábitos, manifestações artísticas que representam a identidade de uma comunidade e são transmitidos entre as gerações, muitas vezes por meio da tradição oral.
Conhecer o folclore de um grupo é valorizar o outro, é perceber as múltiplas possibilidades de ser presentes em nosso mundo, é respeitar histórias e olhar o mundo a partir de novos pontos de vista.
Muitas vezes trabalhamos o folclore na escola apenas nas datas próximas ao 22 de agosto, quando é comemorado o Dia do Folclore, ou de maneira superficial, resumindo o tema a algumas histórias ou festas típicas.
Precisamos ampliar essa visão e propor às crianças momentos que permitam identificar, conhecer, refletir, analisar novos pontos de vista. Não apenas numa data específica, mas em vários momentos ao longo do ano letivo.
Algumas sugestões de atividades:
· Que tal estudar Geografia do Brasil, construindo um perfil das regiões sob a perspectiva de sua população, suas histórias, sua cultura? Esse é um projeto que abrange diferentes componentes curriculares e pode durar o ano todo. É importante que as crianças percebam as peculiaridades das diferentes regiões, influenciadas pelas características dos povos que as habitaram anteriormente, as mudanças que ocorreram ao longo do tempo, as variações linguísticas, o quanto as características do lugar influenciam nas histórias, nos hábitos, nos valores da população. A ideia não é apenas descrever as regiões e apresentar as histórias, mas sim participar da vida local. Isto pode ocorrer por meio de entrevistas com pessoas da região escolhida, intercâmbio com escolas locais (hoje, via videoconferência), elaboração de painéis, produção de vídeos. Desta forma, as crianças e jovens conhecerão o país em que residem, respeitando sua pluralidade e valorizando sua história.
· Elaboração de documentários sobre manifestações culturais pelo Brasil: promova discussões sobre as influências, as construções, as tradições que inspiram e mantêm esses eventos ao longo dos tempos.
· Álbum de memórias: resgate com a comunidade escolar histórias, fatos, lendas, hábitos da sua região ou das famílias e criem um álbum com depoimentos, fotos, registros de todos.
· O que aprendemos com nossos ancestrais? Usem as lendas indígenas para conhecer e valorizar as histórias desses povos, dando autoria correta para as histórias (regiões e etnias). Discutam e analisem o que podemos aprender e trazer para nossos dias, como é a relação dos povos indígenas (antes e hoje) com o meio ambiente.
· Para os anos finais e Ensino Médio, um trabalho muito interessante pode ser feito a partir da série Cidade Invisível, disponível na Netflix. Uma montagem criativa com as lendas brasileiras. Vale assistir, discutir e, quem sabe, montar novas versões com as turmas.
Alerta -- vamos evitar: desenhos estereotipados, textos que minimizem a cultura regional dos grupos, restringir às lendas o trabalho sobre folclore. Evite apenas fazer cartazes sobre o tema; promova discussões. Evite a apresentação de um folclore antigo, fazendo parecer ser de outras pessoas; promova o entendimento de nossa própria história, da construção da identidade e do pertencimento, de ser parte do país e não algo distante.
Só aprendemos quando vivenciamos, dialogamos, argumentamos, conhecemos, trocamos, olhamos com os olhos do outro.
Trabalhar o folclore é construir identidade e cidadania, é valorizar nossa gente e nossa história. É partir do eu, do outro para o nós.